Quando comecei, em tese, a transição, a única certeza
que eu tinha era a de que queria e precisava mudar. Meu cabelo estava
medianamente bem, mas eu não estava mais com disposição ou interesse em
mantê-lo daquela forma. O cansaço era interno. O cheiro do tri...etc. não era
mais uma opção. A única coisa que eu tinha certeza era a de que precisava
mudar, ponto.
Fui atrás de algo que me
proporcionasse mudar e achei a transição.
De início voltar ao cabelo natural me
pareceu uma boa idéia, as fotos na net são tentadoras e existe uma parcela do
discurso natural que ainda deseja ser uma
Rapunzel, crespa, e que não deixa nada a dever aos canais de compras, e
aí me perguntei, é isso que eu quero? Mais do mesmo? E a resposta foi NÃO!
O
cabelo crespo é diferente, crespo não é cacheado, é crespo e se você ainda não
consegue dizer esta palavra, precisa pensar mais um pouco sobre a transição,
pois vão falar, vão identificar e talvez você não esteja preparada para o
choque de realidade. Não digo que crespo é ruim, longe disto, por favor...
Estou falando de algo mais substancial, entender a sua beleza diferente daquilo
que te impuseram por anos, aliás nos impuseram durante anos.
Quais os meus motivos para mudar?? Os motivos de eu decidir pela transição são
muitos, um coletivo: posso te dizer que foi em parte pela curiosidade de
conhecer meu cabelo, morador que vive exatamente em cima da minha cabeça e que
felizmente não consegui jogar ao chão. Por outro lado também posso destacar a
necessidade de parar de ter alergias, e claro, o principal, dar um fim à busca
de um cabelo que a química não me deu, pois sejamos francas e francos, nos
enfiaram e nos enfiamos nesta em busca de um cabelo bonito, vai pra lá e cá que
nunca fez exatamente a minha cabeça. Eu não sei vocês, mas depois de uma ou
duas semanas lá estava eu de novo em guerra com o cabelo que não ficava
milimetricamente no lugar. Mas afinal de contas o que eu queria???
Acho que esta pergunta foi o real motivo de minha
mudança, descobrir o que eu queria realmente na minha cabeça, dentro e fora.
O Brasil gosta muito de falar de cabelo, mas não do
crespo, talvez um pouco, especialmente nos últimos anos, mas ainda sim são
produtos voltados a recuperar o cabelo que passa por processo químico. Seria
demais dizer que os produtos para
cabelos crespos chegaram ao mercado através deste viés??? Acho que não, e se
considerarmos que a última vez que vimos nosso cabelo natural foi na infância,
então é um fato.
Não abandonamos nosso cabelo por vontade e sim por
uma esmagadora verdade social que diz que nosso cabelo não é bom, tínhamos que
“amansar” e assim o fizemos, muita de nós por décadas. Não vou entrar nesta
seara complexa aqui, pois recuperar o cabelo natural não muda a pessoa que o
carrega, li atrocidades vindas de cabeleiras crespas, preconceitos e
discriminações que beiram o absurdo, senão o são. E aí pergunto, mudou o
cabelo? Sim, e a pessoa? Definitivamente não.
Prefiro ver a transição como um processo de
reavaliação do que aconteceu comigo, como, e que padrões ainda se repetem em
algum outro lugar da vida. Muitas de nós
fizemos 18, 20, 25, 30 anos há algum tempo e apesar de universidade, trabalho,
pensamento critico, etc. mantivemos
pensamentos de exclusão pessoais em um certo nível de nossa vida, e vale nos
perguntarmos o por que disto, como conseguimos viver assim? Não darei uma resposta, acho que vale aqui um
troca-troca de pensamentos.
Comecei minha transição em nov/2013 e pesquisando
aqui e ali, percebi que muita gente ainda não sabe porque faz a transição, vive
em agonia, choroso, chorosa, deixando-se abater por qualquer palavra negativa
ou olhar torto. Ver o corte de cabelo como uma “sentença de morte”, algo trágico
é dar motivo para a descrença, pois quando se tem certeza de algo, se segue o
objetivo até o final. Mas não estou dizendo para você sair correndo e cortar
porque eu disse que pode. Pare! Pense! E
responda: Porque você faz a transição?
A transição é um projeto de longo prazo no qual você
deve ter consciência de todos os momentos e necessidades a se cobrar, caso
contrário não dará certo. Faça dela um projeto palpável, escreva, faça o seu
“manifesto”. Diga a todos, incluindo você, como pretende fazer, suas metas de
corte, tratamento adaptado, e principalmente seus motivos o mais sinceramente
possível e encare cada dia como mais um degrau rumo ao sucesso do projeto.
Fazer a transição pelo motivo certo dá a tranquilidade e a serenidade necessária para não ligar para o que possam vir a
dizer negativamente, entenda que aceitar o que dizem e se entristecer com isso
a ponto de deixar afetar a sua vida, o seu dia é um sinal de que você tem
acertos pessoais a fazer... Ou seja, se você tem consciência de que o processo
tem dias e momentos bons e ruins até alcançar uma sintonia fina de longo prazo,
o que vai levar na melhor das hipóteses um ano, porque você não aceita este
tempo e aprende a ler o que sente e como lidam com você? Só quem sabe o que é ser você 24h é você,
então nada do que possam vir a falar deve ser válido.
Respeite seu crespo como ele é, pare de correr atrás
de milagres estéticos, pois eles não existem. Seja feliz e descubra-se única
como você é...
Já cortei 2x, afastei as composições nocivas, faço os
tratamentos regularmente, verifico a saúde dos meus crespos diariamente
tocando-os com respeito e carinho, pois resistiram bravamente a tudo que fiz
consciente ou não neles. Agora eles estão curtos, com as pontas porosinhas, se
achando no mundo, meio sem definição, pois são novinhos e não estão acostumados
a serem protagonistas. Estou tranquila, curtindo o momento e reaprendendo a
lidar com meus fios e com minha rotina de vida da qual eles fazem parte agora
em definitivo. Ainda há uma longa
caminhada, mais cortes e etc, mas ok. Tem que ser assim e assim será até o sucesso
do projeto, sem fantasias, só eu e meu crespinho único.
Nov/2013 |
Jan/2014 |
Me chamo Luciene, mas você pode me encontrar por aí como Lu Ain-Zaila,
autora do blog Lu Ain-Zaila Bellydancer
Vejo
a transição como um projeto pessoal e estético que precisa de argumentos para
se sustentar, e caso seja necessário pendure na parede do quarto, leia e
corrija todos os dias o curso se precisar, e deixe que outros também entendam o
que ela significa para você. Não tente mudar ninguém além de si mesma, um
trabalho para toda a vida.
Belíssimo texto!
ResponderExcluirOlá, gostei muito do seu texto, bem explicativo!
ResponderExcluirAchei seu blog ótimo, vou começar minha transição tbm!!!!
ResponderExcluirOla, fiz transicao, em seguida BC, meu caso foi porque estava quebrando, esta curtíssimo, pesquisando como cuidar de cabelos crespos, descobrir um universo meu, antes desconhecido, é maravilhoso saber sobre meu verdadeiro cabelo e tudo mais, estou quase decidida em nao relaxar mais, obrigada pelas informações, texto maravilhoso, motivador.
ResponderExcluirOla, fiz transicao, em seguida BC, meu caso foi porque estava quebrando, esta curtíssimo, pesquisando como cuidar de cabelos crespos, descobrir um universo meu, antes desconhecido, é maravilhoso saber sobre meu verdadeiro cabelo e tudo mais, estou quase decidida em nao relaxar mais, obrigada pelas informações, texto maravilhoso, motivador.
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